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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A Princesa dos Castelos – parte 2 : “quando nos conhecemos”

A Princesa dos Castelos – parte 2 : “quando nos conhecemos”

Amores rompidos
Amores rompidos
Era uma tarde ensolarada no Reino, e eu atravessava o deserto escaldante montado em meu cavalo , um puro sangue árabe de coloração castanha e com crina vermelha que combinava com as cores da insígnia de meu castelo (Fogo). Estava perdido em meus próprios pensamentos imaginando se realmente ELLA, a princesinha era tudo que diziam, e tinha as formas perfeitas e esculturais dos belos retratos a óleo feitos pelos artistas que tiveram a rara oportunidade de vê-la de perto. ELLA era muito vaidosa e sempre gostava de posar, as vezes nua, para os deslumbrados e artistas do Reino. Mas vocês sabem como é a natureza humana: e se tais artistas em busca de gloria e premiações aumentaram e melhoraram a imagem da princesinha, usando seus pinceis quase mágicos para tornar as curvas daquele corpo moreno mais acentuadas e arredondadas? E se a própria princesinha usando de recursos vastos (os senhores dos Castelos, e até alguns da corte real na capital eram pródigos em lhe darem presentes caros e joias valiosas) melhorou sua auto-imagem em tais retratos?
Com tais duvidas e tendo-se em vista o quanto era longa e perigosa a jornada para conhece-la, já adiara por varias vezes tal evento. Mandei-lhe mensagens por pombo-correio sempre respeitosamente me escusando do compromisso alegando problemas familiares ou de ordem política em meu castelo. ELLA, sempre educadamente respeitou meus motivos e nunca me pressionou para conhece-la logo.
Mas o grande dia chegou, não havia mais como evitar as forças universais que se alinhavam, por que não dizer: o destino que insistia em cruzar nossos caminhos e mudar completamente nossas vidas no processo. No ultimo pombo-correio que lhe enviei já em caminho ao seu castelo, perguntei de forma sucinta porem com jeito pra não ofende-la: “em quanto corresponde seus retratos ao seu corpo real nesse presente dia, que nos conheceremos pessoalmente? ELLA se divertindo com minhas inseguras elocubrações respondeu que devido ao longo inverno que acabara há pouco tempo no Reino estava uma pouco mais clara, não tão bronzeada quanto em suas ultimas representações na tela. Gostei da sinceridade DELLA e segui meu caminho mais aliviado. Mas entendam: o fato DELLA sempre ser retratada em poses que evitavam mostrar seu rosto me deixaram totalmente despreparado para o que encontraria de forma tão mágica quando ELLA abrisse as portas de suas câmaras interiores pela primeira vez a minha pessoa.
Sabem como é aquela ideia pré-concebida de que uma mulher com formas avantajadas e tão curvilíneas não pode também ter um rosto bonito? Pois é , era o que pensava em relação a princesinha antes de conhece-la. E estava satisfeito com essa ideia, explico o porque: se ELLA fosse apenas mais uma gostosa na minha vida, nada mudaria, entendem? Imaginava que ELLA seria apenas mais uma conquista de alcova pra registrar nos anais de meu Castelo. Todos os senhores do Castelo de  Fogo eram conhecidos pelo seu grande apetite sexual e vasto cartel de conquistas femininas. Éramos amantes famosos no Reino, especialmente meu pai de quem herdei o Castelo e o titulo de Senhor do Fogo, não podendo negar o obvio eufemismo, somos famosos por nossa ardente chama do amor: viris e conquistadores na cama assim como no campo de batalha, esse sempre fora nosso lema.
O castelo do Gelo, que  em tempos remotos fora da Agua, se assomava soberbo e sinistro no horizonte, e já sentia lufadas de ar frio condensando-se a minha volta e abaixando a temperatura radicalmente. Diziam as lendas que após um longo e tenebroso inverno que durara muitas décadas o Castelo da Agua se congelara em neves eternas encerrando dentro de si muitos que se negaram a sair quando tudo esfriava e agora haviam se tornado estatuas de gelo, silenciosos guardiões do etéreo castelo. Atravessei o fosso com o rio congelado (grande surpresa) e adentrei ao Salão do pórtico principal. As correntes de ar gelado ali dentro me provocavam calafrios e o silencio sepulcral me dizia que era melhor eu recuar enquanto tinha tempo e voltar rapidamente pelo longo e quente caminho que segui pelo deserto, enquanto eu ainda respirava e tinha uma alma dentro de mim.
 Mas um guerreiro nunca abandona o campo de batalha antes de conhecer o inimigo, e no meu caso, que era um convidado esperado pela senhora daquele castelo misterioso, seria além de covarde uma descompostura imperdoável no código antigo dos cavaleiros andantes, uma traição ao meu juramento e a tudo que eu acreditava e defendia frente aos meus vassalos.
Subi as escadarias em forma de dossel ao pavimento superior e cheguei finalmente a porta onde meu destino, minha vida me esperava…onde ELLA pacientemente me aguardava inocente, pura e sem saber o quanto olhar para ELLA é dolorido, sem saber o quanto de poder sua beleza perfeita exerce sobre homens incautos e apaixonados como eu. Nada sabíamos, devo dizer meus caros leitores desse conto medieval; eu e ELLA, particularmente ELLA, éramos inocentes peças movidas por misteriosas forças do Universo desconhecido.
Eu, o outrora orgulhoso e inabalável conquistador e ardente amante intitulado SENHOR DO CASTELO DE FOGO me tornaria para sempre e de forma inescusável servo DELLA, e nada mais seria normal em minha vida.
A porta se abriu, e ELLA pela primeira vez se revelou inteiramente aos meus olhos mortais, que um dia com certeza se fecharão no sono eterno da morte e ainda terão gravados na retina aquela imagem, aquele rosto de menina, aquele sorriso, tudo aquilo que representa ELLA. Meu espanto foi genuíno, não esperava um rosto tão delicado, lindo e de traços finos como os DELLA; fiquei enlevado, sem ar e depois de alguns segundos constrangedores entrei em seu quarto interior, entrei em sua intimidade e principalmente deixei ELLA entrar no meu coração de onde creio ELLA nunca  sairá, nunca, nunca…
Não a culpo por hoje estarmos separados e ELLA nem querer me ver pessoalmente (diz que prefere não confundir novamente as coisas)eu sempre fora um cara pragmático, pés-no-chão, mas o que aconteceu então, perguntam? Tentarei explicar da melhor forma possível o que aconteceu entre mim e ELLA :Foi assim no meu caso, e eu não me arrependo. ELLA valeu cada dor, lágrima derramada e noite mal dormida que tive pensando NELLA.O que me aconteceu, minha queda em desgraça dentro da vida ordinária, se quiserem, foi culpa minha. ELLA não me enfeitiçou, essa é uma mentira romântica para justificar a queda. ELLA era um oceano e eu tive que nadar em seu interior. Isso tem algum sentido? Tinha me dedicado muito na vida, no mundo sólido da realidade, e estava cansado dele. ELLA era líquida, como um mar sem fronteiras contido em um só corpo, um dilúvio em uma casa pequena, e eu me afogaria nele, se tivesse a oportunidade. Mas foi minha decisão. Fique claro. Sempre foi.
Algo que combine com esse conto: a bela canção “Oceano” de Djavan
https://www.youtube.com/watch?v=2kqdlAYNEzk

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